Estratigrafia e Paleontologia das Formações com equinoides do Baixo-Mondego 

Jurássico -  Caloviano e Lusitaniano

A Formação de Cabo Mondego engloba praticamente todo o Dogger  e  é de uma forma geral, rica em conteúdo fossilífero. Em rochas do Caloviano são referidas as faunas de amonoides Macrocephalites (M.) macrocephalus, Kamptokephalites sp., Indosphinctes patina, Choffatia sp. var., Nequeniceras sp. var., Reineckeia sp., Reineckeites douvillei, os braquiópodes  Parvirhynchia gr. minuta, Rhynchonella royeriana e os equinoides Hemicidaris mondegoensis, Cidaris guinchoensis, Acrocidaris nobilis e Glypticus burgundiacus. As últimas camadas do Caloviano denotam nítidas influências litorais e são da base do Caloviano superior.
 
 
Macrocephalites sp.                          Brachiopoda
 
 
Também foram encontrados equinoides  na  Unidade Calcários  Hidráulicos, datada do Oxfordiano médio e superior e Camadas Marinhas Ricas de Lamelibranquios, provavelmente do Kimeridgiano inferior,  pertencentes ao Lusitaniano  de Choffat.  A primeira  unidade, corresponde a uma série com 80 m de espessura que começa com calcários cinzentos escuros, compactos em bancadas espessas, sobrepostos por uma alternância de argilas, calcário cinzento compacto e argilas lenhitosas e piritosas. Este conjunto, apesar de pouco fossilífero, revela: Unio veziani e Unio heberti, Unio buarcosensis, Paludina ribeiroi, Trichites sp., Mytilus sp., Zamites sp.. Segue-se calcário margoso compacto em bancos pouco espessos, separados por interleitos de xistos betuminosos. Na sua parte inferior foi descrita a  presença de Hemicidaris sp.
 
Brachyphyllum sp.
 
A segunda unidade com, 70 m de espessura, corresponde a depósitos litorais muito zoogénicos com tendência regressiva na sua parte superior. As faunas são dominadas por bivalves e multiplica-se a fração clástica no registo sedimentar. Trata-se de um complexo greso-margoso com faunas abundantes     destacam-se: Terebratula sp., Terebratula gr. subsella, Ostrea pulligera, Ostrea sp., Mytilus beirensis, Mytilus subpectinatus, Mytilus sp., Perna foliacea, Perna sp., Trichites sp., Pinna sp., Pholadomia protei, Acrosalenia ribeiroi  e espongiários.
 
Lopha  sp.
 
Mytilus sp.
 
 
 
 

Cretácico - Calcários apinhoados da Costa D'Arnes e Formação de Tentúgal

 

 Tylostoma  ovatum Sharpe, 1849. Coletado no Cenomaniano de Alcarraques, Coimbra.

 

O Cretácico do Baixo Mondego inclui a Unidade Calcários Apinhoados de Costa D’Arnes correspondente, entre outras desinações, aos Calcários Cenomano-Turonianos de Paul Choffat. Trata-se de uma sucessão de natureza carbonatada que inclui importantes afloramentos, desde o norte de Coimbra até à Figueira da Foz, ao longo de toda a bacia do Baixo Mondego. Esta unidade é composta na sua base por alternâncias de grés calcários, margas gresosas e calcários margo-gresosos. Sobre estes assentam calcários e calcários margosos com estrutura interna apinhoada, muito fossilíferos, os quais, na sua parte terminal, enriquecem gradualmente em minerais micáceos. As fácies na área ocidental da bacia são bastante mais calcárias e encontram-se perfeitamente individualizados os níveis B a O de Choffat, 1897, 1900. Na Figueira da Foz é possível observar com facilidade duas megassequências (C-J e K-O), a primeira do cenomaniano superior e a segunda já representativa do Turoniano inferior. A maior parte dos níveis componentes da unidade são  ricos em fósseis de invertebrados. Entre as faunas descritas na literatura salientam-se os amonoides Neolobites vibrayeanus, Pseudaspidoceras pseudonodosoides, Spathites (Jeanrogericeras) subconciliatus, Vascoceras gamai,Vascoeras douvillei, Vascoeras kossmati; os moluscos bivalves Mytiloides mytiloides, M. subhercynicus, Trigonarca matheronianaChlamys guerangeri, Camptonectes (Camptonectes) virgatus, Neithea (Neithea) hispanica, N.(N.) sexcostata, N. (N.) dutrugei, Plicatula auressensis, Plagiostoma asperum, Pycnodonte (Phygraea) vesiculare, Exogyra (Costagyra) olisiponensis, Rhynchostreon columbum, Ceratostreon flabellatum, Gyrostrea ouremensis, Anisocardia (Anisocardia) orientalis, os gastrópodes Turritella (Haustator) uchauxensis, Cimolithium tenouklense, Aporrhais (Helicaulax) costae, Harpagodes incertus, Ampullina (Pseudamaura) punctata, Tylostoma torrubiae, T. ovatum, e os equinoides Diplopodia variolaris, D. deshayesi, Tetragramma marticensis, T. variolareAnorthopygus michelini, A. orbicularisHeterodiadema ouremense, H. libycumMecaster lusitanicus, H. palpebratus e M. scutiger. Os fósseis de vertebrados incluem, por exemplo,  teleósteos, tubarões, crocodilo e squamatas. 

Adaptado em parte de  https://fossil.uc.pt/

 

   Vascoceratídeos

Neolobites vibrayeanus   (d'Orbigny, 1841)

 

Lessoniceras (Angulithes) mermeti (Coquand, 1862)

Lessoniceras (Angulithes) mermeti  (Coquand, 1862)

 

 

Harpagodes incertus (d'Orbigny, 1843)

 

                                              

              Rhynchostreon columbum  (Lamarck, 1819)                                                       Neithea sp.

 

 

                                                                  Vértebra de Selachimorpha   

 

 

Dente de Pycnodontiforme 

                                             

Afloramento cretácico da Costa D'Arnes.

 

Callapez, P. M. (1999). The Cenomanian-Turonian of the Western Portuguese Basin: Stratigraphy and Palaeobiology of the Central and Northern sectors. European Paleontological Association Workshop, Field Trip B, Lisbon, 65 pp.

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Fotografias e exemplares do autor.