Echinodermata

    O nome do filo  Echinodermata deriva do grego echinos, que significa espinhoso e derma que significa pele. Os equinodermes são exclusivamente marinhos e geralmente bentónicos. Encontram-se em todo o globo e possuem uma distribuição batimétrica bastante ampla, desde a zona intertidal até às zonas mais profundas. Vivem geralmente em águas com elevados teores de salinidade, poucos suportam águas salobras, não sobrevivendo em água doce.

Os equinodermes atuais dividem-se, tradicionalmente, em cinco classes; embora, sem consenso total, tenha surgido uma nova classe recentemente. Estas são as estrelas-do-mar, Asteroidea; os ouriços-do-mar, Echinoidea; as holotúrias ou pepinos-do-mar, Holothuroidea; os lírios-do-mar ou comátulas, Crinoidea e os ofiurídeos ou ofiúros, Ophiuroidea. Os concentricicloides constituem a nova classe proposta: Concentricycloidea.

    Em termos genéricos a morfologia dos equinodermes está organizada num sistema de simetria radial, na grande maioria pentarradiada. Possuem um endosqueleto de calcite, constituído por placas calcárias fixas ou articuladas, distribuídas em cinco zonas ambulacrárias alternadas com cinco zonas inter-ambulacrárias. As zonas ambulacrárias possuem numerosos orifícios, por onde se projectam os pés ambulacrários. Estes últimos são a manifestação do sistema hidrovascular, ou ambulacrário, que desempenha funções muito importantes na locomoção, na respiração e na alimentação. 

    Estes animais foram extremamente abundantes durante os períodos finais do Paleozoico. Possuem, no entanto, um longo e complexo registo fóssil que se estende, pelo menos, até ao Câmbrico Inferior  e possivelmente até ao final do Précâmbrico. No Câmbrico médio temos registo de sete classes de equinodermes,  com o evento ordovícico de explosão de biodiversidade (GOBE) o número de classes subiu para dezoito, apesar da extição de pelo menos três classes do período Câmbrico. No Silúrico, existiam quinze classes, dez no Devónico médio e seis em meados do Pérmico.O registo fóssil do grupo conta atualmente com mais de uma dezena de milhar espécies extintas e é no registo fóssil dos equinodermes, especialmente dos equinoides do Baixo Mondego, que este projeto se vai centrar.

    

Paracentrotus lividus (Lamarck, 1816),  onde são bem visíveis as projeções dos pés ambulacrários. Imagem captada durante a baixa-mar em Buarcos, Figueira da Foz [foto do autor].

 

Rhombifera

    Trata-se de uma classe de equinodermes extintos cuja distribuição estratigráfica vai do final do Câmbrico ao Devónico Superior. O seu nome deriva das estruturas rômbicas por onde circulava água do mar, ou fluídos corporais, para extração de oxigénio. A teca continha a massa viscera e estava presa ao fundo marinho por um caule mais ou menos longo. No topo da teca existiam pequenos apêndices, utilizados para captar alimentos suspensos em correntes marinhas suaves. Certos autores consideram os rombíferos um dos dois grandes grupos da classe Cystoidea.
 
Homocystites sp. Ordovícico Superior, Tinhdad, Marrocos. 
 
 

Blastoidea

    Trata-se de uma classe de equinodermes cuja distribuição estratigráfica vai do Ordovícico ao final do Pérmico. A sua morfologia incluía a teca, constituída por placas de carbonato de cálcio soldadas, em cujo cimo se encontrava o aparelho bucal. Radiando do centro observavam-se cinco sulcos alimentares: ambulacra; dos quais saiam inúmeras e finas estruturas, denominadas braquíolas, que se destinavam a capturar alimento e a conduzi-lo à boca. 

    No centro da teca existiam cinco cavidades centrais, a maior era o ânus e as outras entradas eram para estruturas respiratórias. A teca pode ter forma cónica, globular, cilíndrica ou de noz e encontrava-se ligada a uma coluna, constituída por placas discóides empilhadas, que fixava o animal ao fundo marinho. 

Tecas sobre matriz e duas tecas soltas de Cryptoschisma schultzii, Emsiense, Devónico, Formação La Vid,  Colle, Leão, Espanha.

Pormenor da parte superior da teca.

 

Crinoidea

    Desta classe fazem parte equinodermes fixos conhecidos por lírios-do-mar. Os comatulídeos, conhecidos por penas-do-mar, são de vida livre. Os crinoides foram excecionalmente abundantes e diversificados durante o Paleozoico, tendo a sua biodiversidade sido fortemente abalada pela extinção pérmico-triásica.
    Possuem o corpo caliciforme, munido ou não de pedúnculo. Nas formas pedunculadas o pedúnculo é formado por numerosas peças, os entroques ou artículos, com o qual se fixam a um substrato. No topo do pedúnculo encontra-se o cálice, no interior do qual se encontra a parte visceral do animal, de onde partem os braços com numerosas ramificações laterais, chamadas pínulas, que se estendem por todo o comprimento do braço. Boca e ânus estão na superfície superior do disco. Após a morte, o esqueleto usualmente desmonta-se em pequenos ossículos que podem ser encontrados fossilizados. 
 
Artículos de Pentacrinus sp., Toarciano, Jurássico, Peniche.
 
 
Artículos de Pentacrinus penichensis Jurássico, Toarciano, Peniche.
 

Echinoidea

    Os equinoides regulares ou endocíclicos são radialmente simétricos, possuem carapaça de formato hemisférico a sub-hemisférico, com a boca no meio da face inferior  e o ânus em oposição à boca na face superior. A estrutura apical consiste em placas genitais, ocelares e madrepórica. A boca, internamente, possui uma estrutura chamada de lanterna-de-aristóteles; composta por projeções similares a dentes que são utilizadas principalmente para raspar o substrato em busca de alimento. Esta estrutura raramente é conservada.
    Os equinoides irregulares ou exocíclicos são bilateralmente simétricos. A carapaça tem forma achatada, plano de simetria bilateral e contorno oval, subesférica ou cardiforme. A boca encontra-se no centro da área ambulacrária; pode estar centrada ou ligeiramente deslocada para o lado anterior (lado para onde o animal se desloca).  O ânus não se  encontra na área apical no adulto. 
 

Anorthopygus michelini, Cretácico, Cenomaniano superior, Figueira da Foz.

Radíolas de Pseudocidaris sp., Jurássico, Kimmeridgiano, Alcobaça.

 

Nota: todas as fotografias, salvo indicação em contrário, são de espécimes do autor.